O que são os Santos para a igreja Luterana?
Texto de: Reynaldo de França
Na Igreja Luterana, os santos não são adorados, mas lembrados como exemplos de fé e vida cristã. O termo "santo" refere-se a todos os cristãos santificados pela fé em Cristo, que desde o batismo são chamados a viver em santidade. Alguns são destacados por sua perseverança e obras exemplares, que servem de inspiração para a comunidade.
Diferente da Igreja Católica Romana, os luteranos não canonizam santos nem atribuem milagres a intercessão deles. Em vez disso, lembram-se em celebrações como as Festas Menores, que destacam figuras ligadas à vida de Cristo, e Comemorações, que homenageiam fiéis de várias épocas e regiões. Essas datas não implicam culto a figura do santo, mas são oportunidades de refletir sobre a graça de Deus e a caminhada cristã.
As Igrejas Luteranas com nomes de santos não indicam adoração, mas sim a intenção de trazer seus exemplos de fé para a vida comunitária. A prática está fundamentada no ensino bíblico e na Confissão de Augsburgo, que reforça a importância de aprender com o testemunho de homens e mulheres fiéis.
Entretanto, se todos os cristãos em Cristo são considerados santos, como decidir quais nomes e exemplos devem ser destacados na vida da Igreja? O que torna essas figuras tão significativas para serem lembradas por gerações
SANTOS NA IGREJA LUTERANA
“Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Cristã - A COMUNHÃO DOS SANTOS, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na Vida Eterna. Amém.” - Credo Apostólico
Ao se ver Igrejas Luteranas com nomes de São Marcos, Santa Maria, São Lucas, Santo Estevão, etc, é comum que pessoas evangélicas nos perguntem: Ué, vocês luteranos agora são católicos pra ficar adorando “SANTOS”? A resposta simples é NÃO ADORAMOS SANTOS. Mas então porque chamar pessoas de “santos”, e homenageá-los?
Essa prática tem origem nos tempos bíblicos, onde desde o Antigo Testamento, o SENHOR Deus convida seu povo dizendo “Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo…” (Lv 20.26), esse convite marca o povo de Deus como “povo santo”. E essa tarefa de buscar santidade é colocada sobre todo o povo, TODOS DEVERIAM SER SANTOS. Mas existem aqueles dentre o povo que conseguiram cumprir isso melhor, não porque não tiveram pecados, mas porque pela perseverança na Fé desenvolveram obras (frutos) que são exemplos para todo o povo de Deus, e são alguns desses o autor de Hebreus vai citar no capítulo 11 de sua carta.
“Na fé, todos estes [...] depois de se reconhecerem estrangeiros e peregrinos nesta terra [...] aspiram, com efeito, a uma pátria melhor, isto é, a pátria celeste. É por isso que Deus não se envergonha de ser chamado o seu Deus. Pois, de fato, preparou-lhes uma cidade…” - Aos Hebreus, 11.13-16
Ao lado disso, como está citado acima no Credo, a Igreja de Cristo, muito mais do que o povo de Israel é chamada a ser santa, pois pela fé em Cristo somos salvos, tornados justos e filhos de Deus, de modo que no Batismo recebemos o Espírito Santo que opera a fé em nós para que essa fé dê frutos, para que progridamos na SANTIFICAÇÃO.
O Apóstolo Paulo chama os cristãos de “santos”, caracterizando por esse termo não “pessoas sem-pecado”, mas pessoas perdoadas e trazendo a realidade de santidade para todo o povo de Deus como é desde a Antiga Aliança, só que em Cristo essa realidade é mais concreta. São santos então todos os que vivem e morrem com Cristo.
Mas porque então existe um número específico de santos? Isso é simples. O apóstolo Paulo também vai nos dizer “Sede meus imitadores, como eu mesmo o sou de Cristo” (1Co 11.1), dessa forma os “santos” que são lembrados pela Igreja são pessoas que são dignas de se tomar por exemplo de fé e obras, como o próprio apóstolo. Não significando que a Igreja nega que todos os que estão no céu estão no mesmo nível, pois também no Dia de Todos os Santos, a Igreja se alegra e celebra por todos os santos e santas do passado, do presente e do futuro.
A melhor forma de se lembrar desses grandes homens e mulheres do passado que chamamos de “santos” é através da memória das suas vidas, assim como o autor de Hebreus faz em sua carta citando nomes de pelo menos dezesseis santos que são exemplos para a Igreja. Assim, foi, ao lado do calendário litúrgico que nos transporta durante um ano pela vida, paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus, desenvolveu um calendário dos santos, onde geralmente marcando o dia de sua morte, o povo de Deus se lembra do santo ou santa e do exemplo que sua vida nos traz, com leituras bíblicas específicas para o dia. Nesses dias não se reza para o santo ou adora-se ele, mas nos lembramos de Cristo através da sua vida.
“Do culto aos santos, os nossos ensinam que devemos lembrar-nos deles, para fortalecer a nossa fé ao vermos como receberam a graça e foram ajudados pela fé; e, além disso, a fim de que tomemos exemplo de suas boas obras, cada qual de acordo com a sua vocação, assim como Sua Majestade Imperial pode seguir, salutar e piedosamente, o exemplo de Davi…” - Confissão de Augsburgo, Art. XXI
Na Igreja Luterana não existe um processo de “canonização”, pois todos aqueles que morrem em Cristo, inclusive nossos familiares e amigos, são santos. A nomeação de tal pessoa como um santo ou santa vai depender da veneração do povo, ou seja, de sua admiração pelo exemplo dessa pessoa, então é comum que as comemorações não sejam as mesmas em todos os lugares, não havendo um número exaustivo de santos para cada dia do ano, mas apenas alguns dias que tem nomes de pessoas importantes para história da Igreja.
Assim, luteranos também não tem “padroeiros”, pois não atribuímos milagres aos santos nem rezamos pela sua intercessão, mas antes cada um pode observar os exemplos de acordo com a vida dos santos, não havendo uma “santo padroeiro dos escritores”, mas sim alguns santos que foram escritores e são exemplos para os que escrevem, assim como o Rei Davi é exemplo para os governantes como citado acima.
Essa rejeição da oração aos santos se dá porque entendemos que não há nas Sagradas Escrituras nenhum texto que corrobora tal atitude, trazendo alguma promessa que eles nos ouvem e tem qualquer poder sobre o que ocorre na terra. Não negamos a possibilidade que os santos ao lado dos anjos orem do céu pela Igreja de forma geral, mas nossa confiança não deve estar depositada na figura dos santos do céu, mas sim em Cristo Jesus, nosso Mediador que promete nos ouvir e interceder por nós ao Pai Celeste.
Porque, então, ter nomes de santos nos templos luteranos? Não porque cultuamos o santo, mas provavelmente porque no dia de fundação do templo a Igreja no mundo se lembrava do exemplo desse santo, e a comunidade queria trazer esse exemplo para sua vida também, seja a confissão de São Pedro ou o martírio de Santo Estevão, o evangelismo de Santa Maria Madalena ou piedade de Santa Lídia, a fé firme de Santa Luzia ou a sabedoria de Santo Agostinho, todos são maravilhosos exemplos da fé para todos os cristãos.
Lembrar dos Santos que nos precederam na fé permite contemplarmos a graça de Deus em suas vidas, ter exemplos de fé para as nossas vidas e render graças a Deus.
BÔNUS - CALENDÁRIO DOS SANTOS
O Calendário dos Santos (ou Hagiológico) é uma ferramenta semelhante ao calendário litúrgico, mas ao invés de Domingos e Tempos da Igreja, se destacam dias específicos no ano, onde a Igreja celebra determinado santo. Ele se divide em dois tipos de festividade:
As Festas Menores, que incluem eventos e pessoas da vida de Cristo em seu ministério terreno, como a mãe do Salvador e seus apóstolos. Estas festividades recebem o tratamento de “Festas de Cristo”, pois lembramos, celebramos e agradecemos a vida que nosso Senhor Jesus Cristo viveu por nós na carne, através daqueles que conviveram com Ele. Por isso, é apropriado observá-las com uma Missa (Sacramento do Altar), quando o Verbo que se fez carne vem a nós e se entrega a nós da mesma forma em que veio e viveu entre os apóstolos e outros discípulos no Novo Testamento. Normalmente, um Domingo (do Tempo da Igreja) tem precedência sobre uma Festa Menor, mas é costume que em Igrejas da América se observe alguns dias dos santos no Domingo mais próximo, especial se estas datas caem em um Domingo do Tempo Após Pentecostes.
Já as Comemorações são parte do Ciclo Santoral do Ano Litúrgico e nos permite lembrar de homens e mulheres, tanto da Antiga quanto da Nova Aliança (também fora dos tempos bíblicos), que guardaram a fé e cujas vidas proclamam o triunfo da graça de Deus e seu infinito amor pelos seres humanos. Em cada região e em cada tempo houveram variações nos calendários dos santos adotados pelas Igrejas, todavia a prática de “canonização” não é algo necessário nas Tradições Cristãs Luterana, Anglicana nem Ortodoxa, sendo os santos lembrados de acordo com a veneração (honra) prestada pelo povo cada santo.
Em ambas festividades os Santos são comumente lembrados no dia de sua morte terrena, tido como o aniversário de seu “nascimento celestial” (dies natalis), que Lutero de “completude do batismo”, uma vez que o cristão é levantado das águas desta vida para a vida que não tem fim.
FESTAS MENORES
Novembro
Dia 1 - Dia de Todos os Santos
Dia 30 - Santo André, Apóstolo
Dezembro
Dia 21 - São Tomé, Apóstolo
Dia 26 - Santo Estevão, Diácono e Primeiro Mártir
Dia 27 - São João, Apóstolo e Evangelista
Dia 28 - Santos Inocentes, Mártires
Janeiro
Dia 1 - Circuncisão e Nome de Jesus
Dia 18 - Confissão de São Pedro
Dia 24 - São Timóteo, Presbítero e Confessor
Dia 25 - Conversão de São Paulo
Dia 26 - São Tito, Presbítero e Confessor
Fevereiro
Dia 2 - Purificação de Santa Maria e Apresentação de Jesus no Templo
Dia 24 - São Matias, Apóstolo
Março
Dia 19 - São José, Tutor de Jesus
Dia 25 - Anunciação de Nosso Senhor por São Gabriel
Abril
Dia 25 - São Marcos, Evangelista
Maio
Dia 1 - São Filipe e São Tiago Menor, Apóstolos
Dia 31 - Visitação de Santa Maria a Santa Isabel, sua prima
Junho
Dia 11 - São Barnabé, Apóstolo
Dia 24 - Natividade de São João Batista, Profeta
Dia 29 - São Pedro e São Paulo, Apóstolo
Julho
Dia 22 - Santa Maria Madalena, Apóstola
Dia 25 - São Tiago Maior, Apóstolo
Agosto
Dia 15 - Santa Maria, mãe de Nosso Senhor (Theotokos)
Dia 24 - São Natanael (Bartolomeu), Apóstolo
Dia 29 - Martírio de São João Batista, Profeta
Setembro
Dia 14 - Santa Cruz
Dia 21 - São Mateus, Apóstolo e Evangelista
Dia 29 - São Miguel, São Gabriel e todos os Anjos
Outubro
Dia 18 - São Lucas, Evangelista
Dia 23 - São Tiago de Jerusalém, Irmão do Senhor, Bispo e Mártir
Dia 28 - São Simão e São Judas Tadeu, Apóstolos
Dia 31 - *
*O Dia da Reforma é celebrado de forma semelhante a uma Festa Menor nas Igrejas Luteranas, mas tradicionalmente não se encaixa na definição
As Festas Menores são comuns a toda cristandade na terra, mas as Comemorações, como dito acima, são várias e mudam dependendo do local, sendo costume lembrar de pessoas importantes como primeiros missionárias e missionários da região, teólogos, pastores, diáconos e diaconisas, e também leigos como reis e rainhas cristãos.
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